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Na região do município de Mortágua, observou-se que, embora grandes empresas de setores como farmacêutico e florestal sejam predominantemente geridas por homens, a grande maioria das empresas locais de comércio é liderada por mulheres empreendedoras, com grande sucesso. Para o propósito do relatório, foram realizadas duas entrevistas com empresárias que possuem negócios crescentes e sustentáveis, a fim de compreender melhor a sua jornada empreendedora, pontos fortes, obstáculos, entre outras características relevantes. As entrevistas foram realizadas pessoalmente com duas gestoras de negócios femininas.
Primeira entrevistada: Paula Pereira (PP), de Portugal, é a gestora da Kitlar, um negócio de design, mobiliário e moda, localizado em Mortágua. É responsável pela gestão da empresa e, simultaneamente, pela supervisão de todos os projetos de design desenvolvidos para os clientes.
Segunda entrevistada: Rosa Mortágua (RM), de Portugal, é a proprietária e gestora da Koala, uma loja de moda infantil que expandiu sua gama de produtos, entrando no mercado de moda masculina e feminina. Desde o design e produção próprios até as vendas de outras marcas, a Koala cresceu por mais de 20 anos.
- O que a inspirou a iniciar o seu próprio negócio?
PP: Ter um plano B. Enquanto trabalhava, sempre quis criar o seu próprio projeto. Do plano B, passou para o Plano A, quando se tornou um emprego a tempo inteiro.
RM: A necessidade de garantir um salário no final do mês. A empresa para a qual a proprietária trabalhava ia fechar, e havia a necessidade de garantir rendimento. Após participar num programa de formação para mulheres (“Novas Oportunidades para Mulheres”), a empreendedora encontrou a ideia que queria seguir.
- Há quanto tempo está a gerir o seu negócio?
PP: 24 anos
RM: 28 anos
- Qual foi a sua maior conquista como empreendedora até agora?
PP: Conquistar a confiança dos clientes. Para a empreendedora e o seu negócio, é de grande relevância que os clientes confiem na qualidade dos produtos e serviços prestados, sendo uma grande conquista no percurso empreendedor.
RM: Começar do zero, com dinheiro emprestado e, com muito trabalho, conseguir crescer e proporcionar oportunidades de emprego para outras pessoas.
- Como mantêm o vosso negócio competitivo face ao progresso tecnológico, à digitalização e à inovação?
PP: Manter-se atualizada com todo o progresso tecnológico e as tendências de mercado é de grande relevância para a empreendedora. Embora o negócio não seja baseado em TI, ela foca-se em estar atualizada em todas as novas ferramentas disponíveis e inovações que possam apoiar o sucesso do negócio.
RM: Atualmente, não é fácil, devido ao contexto económico. Sempre foi importante para a empreendedora perseverar e manter um toque pessoal nos produtos desenvolvidos.
- Gostariam de partilhar algumas dicas para fazer crescer o negócio e torná-lo rentável?
PP: Não há uma receita. É de grande relevância ter conhecimentos de gestão, seguir a intuição, entender como fazer o melhor com os recursos limitados que possui. É importante ter uma gestão contínua.
RM: Atrair clientes e manter os clientes atuais satisfeitos.
- O que torna particularmente difícil abrir ou gerir um negócio no vosso país (pode ser qualquer coisa relacionada com o contexto nacional)? Como enfrentam isso?
PP: A burocracia e os impostos elevados são as maiores dificuldades. A adaptação ao contexto e às oportunidades de mercado tem sido a forma de enfrentar as dificuldades.
RM: Impostos elevados. Do ponto de vista da empreendedora, é muito desanimador, para qualquer empreendedor que trabalhe arduamente, a elevada quantidade de impostos a pagar.
- Quais são as mudanças que gostariam de fazer? Quanto tempo levará para realizá-las? O que impede vocês de realizá-las?
PP: Ampliar a gama de produtos e serviços oferecidos. A loja online foi criada, mas ainda não houve tempo para tirar partido dela e fazê-la funcionar.
RM: Neste momento, a empreendedora só quer manter a sustentabilidade e não está a considerar outras grandes mudanças.
- Enfrentaram desafios ou barreiras na vossa jornada empreendedora que atribuem a preconceito de género ou discriminação, e como lidaram com esses desafios? Esses desafios influenciaram a vossa estratégia de negócios?
PP: Não em relação ao preconceito de género, mas a cultura das pessoas ao redor ainda é muito avessa à evolução. As pessoas não compreendem muito bem o crescimento da empresa para novos mercados.
RM: Quando a empreendedora começou o seu negócio, sentiu a falta de credibilidade, principalmente devido à sua idade jovem. Ao mesmo tempo, em alguns aspetos do lançamento do negócio, como lidar com fornecedores, sentiu que não apenas a sua idade, mas também por ser mulher, não era levada a sério. A sua experiência de trabalho anterior e os contactos ajudaram-na a superar os desafios.
- Baseado em pesquisas, o medo do fracasso pesa muito nos ombros das mulheres, especialmente no ambiente empresarial. O que o fracasso significa para você? Como lida com isso?
PP: Não lido bem com o fracasso, mas o fracasso não está na minha mente. Sigo as minhas decisões com confiança e fé. O medo nunca dominou a minha confiança.
RM: No início, especialmente com crianças pequenas e a necessidade de ter dinheiro no final do mês para pagar as contas e garantir o salário dos funcionários, foi muito difícil lidar com a possibilidade do medo. Mas a empreendedora sempre trabalhou arduamente para evitar o fracasso e seguir em frente. Mesmo que o seu negócio seja muito bem-sucedido, ao longo do caminho houve momentos muito difíceis e desafiantes.
- Como diferenciam o vosso negócio dos concorrentes e criam uma proposta de valor única para os vossos clientes?
PP: Mesmo que a empreendedora esteja sempre atenta à evolução e às tendências do mercado, tudo é feito com um toque pessoal. Nenhum produto ou serviço é entregue com a “marca” da empreendedora. Isso diferencia o negócio dos concorrentes.
RM: Atualmente, a concorrência é elevada. A empreendedora procura oferecer produtos diferentes que atendam às expectativas dos clientes e à evolução das tendências.
- As vossas prioridades mudaram desde o início? Se sim, como?
PP: As prioridades não mudaram muito, embora a empreendedora sinta que deveriam. O trabalho sempre foi a prioridade e, com a idade, ela começa a acreditar que precisa viver mais a vida.
RM: Para alcançar o sucesso, a empreendedora teve que trabalhar muito, sacrificando a vida familiar e o tempo com os filhos. Se ela fosse começar de novo, dedicaria mais tempo à família.
- Qual é o papel que acham que o mentor desempenha em ajudar as mulheres a terem sucesso nos negócios?
PP: Toda a boa ajuda é bem-vinda. A troca de experiências é muito importante.
RM: A empreendedora valoriza todos os tipos de trocas de experiências e aprendizado com os outros. Ela mesma já foi parceira e mentora para outros novos negócios.
- Como gerem o vosso tempo livre como empreendedoras (família, filhos, casa)?
PP: Como empreendedora e mulher, apenas com o sacrifício do tempo pessoal foi possível lidar com todas as dimensões da vida. Resistência e resiliência foram de grande relevância.
RM: Atualmente, a empreendedora dá grande valor ao seu tempo livre. Embora, por mais de 20 anos, ela se tenha dedicado ao trabalho, sacrificando o tempo com a família.
- Que conselhos dariam a outras mulheres que queiram iniciar o seu próprio negócio?
PP: “Pensem muito cuidadosamente… pensem!” Hoje em dia, ter apenas uma boa ideia não é suficiente, cada projeto precisa ser cuidadosamente planeado e preparado. Mas nunca se deve desistir do que se sente que trará realização e felicidade.
RM: Arrisquem! “Só depois de tentar poderemos descobrir como corre.” É um trabalho árduo, mas ninguém deve desistir dos seus sonhos antes de tentar.